domingo, 15 de abril de 2007

Atrás-do-sol-posto

Descobri que todas as estrelas foram roubadas por uma nação escondida chamada "Atrás-do-sol-posto" e fica atrás de uns montes onde não chega o sol, nem as águas do grande Rio que influência o ser melancolico que é o lisboeta (lisboums melancolicus).
Ora a grande nação de Atrás-do-sol-posto descobriu q toda a gente andava a emigrar ilegamente do seu pais, saindo às 3,20 da manhã pela janela da casa de banho do vizinho e rebolando através das silvas e dos bandos de adolescentes que praticam sexo anal contra a oliveira; oliveiras essas que são o cerne, a espinha dorsal economica (e demografica, para todos os efeitos) de toda a nação. Bom, para combater este fenomeno e para continuar a ter pessoas a trabalharem nas fábricas de isqueiros e agulhas e nas minas de surro e cera dos ouvidos, resolveram activar um plano de incentivo às populações; fazendo com que estas permanecessem na grande nação Atrás-do-sol-posto, assim como houvesse populações de nações vizinhas como o É-muita-longe e o Distante-para-caralho quisessem vir para o Atrás-do-sol-posto.
Uma das resoluções do governo foi tornarem legal a emissão de porno apartir das 22 da noite, atraindo grande empresários do comércio do sexo, assim como da area do audiovisual, como medida de trazer populações mais cultas e com um grau de especialização altissimo num mercado de trabalho pouco explorado e que poderia dar grandes vantagens de exportação com os países vizinhos. A indústria do Porno tornou-se uma grande fatia na balança das receitas do estado, logo a seguir à apanha do morango que cresce por entre as pedras da calçada e às beatas mal fumadas e acessas que são colhidas na única estação de comboios da nação.
Mas a medida mais importante, e nao de foro economico-social, foi a do rapto das estrelas. O governo de Atrás-do-sol-posto apercebeu-se que precisava de algo mais que melhorias palpaveis, precisava de espirito, de um certo je-ne-se-quais. Então houve um zézé toinas que parece um contabilista mas q na discoteca la do sitio come sempre todas que sugeriu, epa entao e roubar as estrelas!? É q nós n vemos nca o sol..ao menos ficavamos cm algo para substituir.
E plim...foi assim que a grande nação de Atrás-do-sol-posto ficou com as estrelas do mundo, vivendo na escuridão, atrás dos montes, com as suas estrelas e com a sua indústria porno.
e as suas oliveiras, e minas de surro e morangos pedestres e oliveiras, e putas de qualidade.
E foi de lá que acabei de vir.

sábado, 31 de março de 2007

A menina que coisa as cordas

Pois e coiso interessante é coisar nas cordas do coiso sonoro do céu. Ora as nuvens coisam o azul do céu que é interrompido pelo coiso sonoro do coisar das cordas que sao fotografadas e dedilhadas a velocidades coisásticas que coisam o ar vibrando-o.
E os saxofonistas rezam aos ceus com seus dedilhares frenéticos que nao coisam cordas mas sim butões que coisam o ar de maneira frenética, frenetizando um jovem de blazer e camisa à lenhador que descalça quase descalço com a sola dos sapatos quase a raspar o descalçamento trifásico composto por 3 etapas de degeneração dermatológica e química e têxtil.
E acabamos de receber como última informaçao, que ele tem umas calças de bombazine e chama-se chapeleiro, apesar de não ter chapeu e deste se afirmar com veemência que tem um chapeu que apenas é visto por aqueles que querem ver o chapeu.
A menina que coisa as cordas que coisam o ar, ve o chapeu?

quinta-feira, 22 de março de 2007

Bom dia alegria primaveria

E cabelos escuros espetados e despenteados no escuro da sombra da arvore que me dá sombra, enqto faço teatros de sombras reflectidos para a erva queimada pelo sol picado do equinócio primaveril, 21 de março de todos os anos que ainda estarão para desabrochar.
Cabelos engraçados que a menina que passa tem. À sombra e ao sol reflectem um sorriso de sol , que cega aquele que leva com um chapão de sol na cara. Mas a culpa também é daquela mesa de metal que está posta ali no meio da planicie, apenas para segurar as chavenas do chá e do café e do whisky vazio com pedras de gelo à espera do eléctrico das 15,55 para o azul-infinito céu.
Um rapazinho franzino, que usa calçoes pela primeira vez em 2007, pedala com franqueza e velocidade cansada, enquanto semi-cerra seus olhos pelo chapão do sol, que brilham ao sol por contemplarem o sol e por terem o sol dentro deles.
E olha para a frente e vê uma menina d cabelo escuro e despenteado, parando de olhar para a estrada e espetando-se contra o Homem dos cães brancos, que lhe atiça o Pedófilo e o Salazarista contra os seus joelhos, deixando o pobre rapazinho franzinho incapaz de voltar a rezar...

e a pedalar.
.
.
.
durante 3minutos.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Pálida Musa de Verão

Ela já foi antídoto para o meu veneno e veneno para o meu antídoto.
Fez-me escrever páginas e páginas de linhas e linhas de páginas e linhas de um minúsculo bloco que guardava no bolso de trás dos calções enquanto andava de bicicleta, passando inúmeras vezes à porta da sua casa vazia, mesmo sabendo que ela apenas viria dentro de dias.
Fez-me rebolar na relva húmida com a boca mais aberta que em qualquer outra noite devido ao ácido cauterizador com que ela me tinha injectado nas veias, fazendo reviver uma velha pedra do peito e tornando-a incadescente e ferverosa.
Fez-me cantar Bop noite sim noite sim noite adentro, tendo apenas a noite a olhar por mim adentro, e sua leve mas venenosa presença no meu espírito enquanto dançava com as imovíveis estrelas.
Fez-me renegar dias de suposta festa apenas para poder dizer-lhe Olá e Adeus em 5minutos, com 4beijos secos nas bochechas intercalando o Olá e Adeus.
Fez-me cagar na minha solidão e orgásmica solidão que tenho pela minha condição solitária, indo a pedalar velozmente com um papel rabiscado arrancado de sei lá que bloco, que servia como testemunho de minha entrega apaixonada à minha Pálida Musa de Verão.
Musa de Verão... que se foi embora mal os dias começaram a encurtar; assim cmo a minha vida encurtou pelos curtos caminhos das fáceis sensações e tentações e aventuras tentadoras e sensíveis - abandonei-a por uma mão vazia de sensações e histórias.
Copos verdes e acastanhados. Pontas de cigarros apagados a serem fumados estando sentado à beira da calçada de ma qualquer rua enviesada cujo nome está turvado. Musas nocturnas de olhos verdes-azuis-acastanhados-escuros, de cabelos escuros-acastanhados-azuis-loiros. Beijos bêbedos de lábios dormentes que já não sabem o que é o paladar sóbrio. Bancos de jardim ao frio e ao vento das 5 da manhã de locais inapropriados para situações inapropriadas.
Aventuras apagadas como a ponta do cigarro que tento fumar, chupar. Que me fazem escrever e falar mas qe nunca me darão, a minha Musa de Verão.
Pálida Musa de Verão.

Enfim...

...a cidade consome-nos em devaneios solitários,
cinzentos de anonimato aconchegante e dilacerante.

Enfim...
mentes conturbadas em viagens ácidas e azuladas
que permanecem debaixo da língua seca e desavermelhada

Enfim...
lençois finos estendem-se até ao horizonte perceptível
numa terra erma onde hienas têm festins necrófago-canibais.

Enfim...
Apenas usei isto para vomitar um emaranhado de palavras
sublimadas em discursos desnecessários e confusos.

Enfim...
aqui me despeço - aqui permaneço.
Encostado a esta janela - observando toda esta fria e anónima cidade
que me acolhe - que me mata.

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25 de Novembro de 2006

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

De uma beleza-azul-surreal

Um foco de luz incidente no meio do quadro, no meio do enquadramento, no meio da fotografia. É um grande plano que vai diminuindo lentamente - plano de peito, plano de tronco, plano de pé. É uma grande figura que vai sendo descoberta lentamente numa lenta dança de sedução que tenta esconder traços de obsessão compulsiva e frenética atrás daquele suave ritmo. Daquele suave ritmo que se vai desdobrando no tempo, sendo cada segundo multiplicado por diversas versões possíveis em dimensões perpendiculares que, a cada segundo que passa, resulta naquele suave ritmo azul.
Azul. Um ritmo suave-azul. Como se estivessemos a boiar no meio do alto-mar onde este se cruza com o azul céu, sem nada mais em torno de nós sem ser o azul. No azul incidente daquele quadro, no meio do enquadramento, no meio da fotografia. Uma figura.
Uma figura. A figura. A sublime figura. Escultura feita apartir do ponto onde o azul do mar se cruza o azul do céu. Azul. Suave ritmo azul. De uma beleza-azul-surreal.
Um quadro pintado em tons de azul, de onde sai uma melodia azul por trás dele. I have the blues... Eu tenho e ela tem, mas eu nunca a irei ter. Não é querer te-la para tirar a luz incidente do quadro, pois é o que dá surrealidade ao quadro. É o que dá beleza ao enquadramento e gera a música que sai de trás dele.
Escultura de traços finos onde poisa um fino e delicado vestido preto que se ajusta às tuas linhas melancólicas que sobressaem sob o Azul. O Azul a que tu dás vida.
Gesticulantes lábios vermelhos que articulam hinos que te pulsam nos corações vermelhos que tens. Gesticulantes lábios vermelhos ligados a gestos que são estalidos que são pulsações de teus corações vermelhos; que são Vida.
Quadro vermelho, azul que é Vida e melancolia e que isso pouco importa quando o que vemos é uma beleza-azul-surreal. Que nos encanta e nos hipnotiza. Que nos põe doentes. Que faz mudar a cor do nosso sangue. Que nos faz entrar num suave ritmo melancólico - dançando com uma luz azul incidente - estalando os dedos - fechando os olhos e indo para o azul, do qual és Senhora.
Sublime senhora da beleza-azul-surreal. Azul-beleza-surreal. Surreal-beleza-azul. Quem me fez escrever tudo isto. Ponto final.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Calçada do Carmo com a Nossa Senhora da Conceição

Calçada do Carmo sem gin, por este ter sido roubado por antigos hippies que dizem à filha que fumar um charrinho de vez em quando na Calçada do Carmo não faz mal, mas para não exagerar e que o gin é deles.
Mas a filha deles é a Nossa Senhora da Conceição, que muito pálidamente se separa da confusão dos adultos e vai ao corredor da luz branca e retira da terceira prateleira a contar de cima uma garrafa de um basso verde que a hipnotiza e a faz dançar pelas escadas a fora
escadas a dentro
das escadas a fora
da Calçada do Carmo.

Nossa Senhora da Conceição, com um cachecol alaranjado sob a cabeça e olhos esbogalhados para a fotografia, com um discípulo vestido de negro a seus pés a rir-se pelo nariz e pelos tímpanos.
Nossa Senhora da Conceição, na Calçada do Carmo desliza pelo basso verde corrimão com a garrafa basso verde na mão e desvenda seu segredo na Calçada do Carmo dizendo:
-"Sou uma Nossa-Senhora das Limpezas a escorregar pelo corrimão!"

E faz o discípulo rebolar pelas escadas abaixo
da Calçada do Carmo.

Vida suprimida

Foi suprimida. A Vida.
Quem? Quem é que foi detida?
Suprimida!
Onde?
Numa estação qualquer do submundo da ilusão da vivência vivída e respirada. Numa estação onde os pés se movem sem vontade e sem sairem do mesmo lugar. Onde as mãos não têm sensibilidade nem para apalpar o ar, e ainda assim tentam apalpar o escuro, que afinal é cinzento e que afinal é fumo da fábrica que emprega 1537 trabalhadores, onde nenhum deles sabe o que se fabrica na fábrica mas que mesmo assim trabalha na fábrica, e onde todos os trabalhadores têm o 6º ano feito e têm como dieta tremoços e cerveja e futebol e 2minutos de sexo por ano.
Mas quem?
A VIDA! Suprimida!
Caralho, a puta da vida foi suprimida, e os pobres desgraçados cegos apalpadores de fumo do submundo da existência são forçados a comerem-se às dentadas para não uivarem de raiva, o que faria com que todos os seus telhados de vidro se quebrassem.

"-Comboio das 15,55 proveniente dos confins da existência insensível com à Vida devido a motivos técnicos inexplicáveis foi suprimido..."

E o suicida lá do fundo berra "PORRA!", e volta para casa para comer batatas fritas pré-congeladas do tipo palito, enquanto ve na sua poltrona remendada com fita-cola castanha o Campomaiorense a jogar contra o Tirsense na Base das Lages para a liga da da ilusão da vívida que é a puta da Vida suprimida.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Com o Al Berto debaixo do braço

Que paciência a sua
de levar O Medo
debaixo do seu braço!

O meu, pulsa negro
por entre as veias e a curvatura das costas,
dobrando-me o espírito
até à formatura de uma pedra

- inerte e fria.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Bailarina dançarina

E a bailarina dançarina de sapatos vermelhos brilhantes com seus pés vermelhos em carne-morta; dança. Dança e rodopia com uma garrafa na mão. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, desgastando a sola dos seus pés.Deixando pequenos pedacinhos seus no chão de madeira deslizante, no piso de dança.
E a bailarina dançarina de cabelos-noite e olhos-mar.Filha do gerente do hotel que existe no topo da escarpa, ao lado da cascata.Por entre as tenebrosas e imponentes árvores, onde vivem uivos violentados de vultos velozes e esfomeados; dança. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, deixando deslizar seus cabelos-noite, passeando os seus olhos-mar por toda a sala e por todo o piso de dança e perdendo-se no remoínho da música, do melancólico bop que nem chega a fazer pop nem tun tun tun nem beebop-pop-bog e apenas a envolve numa estranha neblina anestesiante que lhe acende o cigarro apagado no canto da boca.
E a bailarina dançarina apenas dança sozinha; dança.
E a bailarina dançarina foge quando o bailarino dançarino aparece para lhe dar a mão e a levar ver a Lua.

Cinema

...e o cinema não é a sintese de todas as artes mas sim a explosão e sublevação de todas elas a uma nova dimensão.

Já é Domingo e apenas os poucos transeuntes o sabem...

E tantas outras noites e comboios passam de um lado para o outro,
em movimentos oscilatórios do pêndulo dos tempos perdidos e nunca ganhos nem reconquistados, dos tempos elevados e subelevados ao expoente da sensaçao, do delirio e da explosão.

Cabeças que tombam quando as paragens aparecem e fazerem parar o corpo que se move dentro de uma bala através de fronteiras feitas de fumo e fábricas.
Cabeças pesadas e perdidas, olvidadas e destiladas em mistelas de cores esbatidas.

Pessoas sentadas em ombreiras de portas, com seus membros enregelados e com seus corações gélidos a tentar aquecer as suas mãos na fricção do gelo com gelo que cobre ambos seus corpos.
E não faz fogo e não faz fogueira.
E não há fricção porque os corpos afastam-se e fogem e amedrontam-se por causa de memórias de cidades fantasmas feitas com madeira pútrida da persistência da memória, dos amaldiçoados que têm boa memória, dos cruxificados que se lembram do que tomaram pelo pequeno almoço num sábado perdido por entre braços outrora conhecidos e que agora passam despercebidos e estranhos enquanto surge a necessidade do abrigo da dormência dos espírito e do falso esquecimento.

E eu, que raio faço no meio de tanta palavra colocada quase ao acaso por entre este vomitado esverdeado de sensações nocturnas e fartas.Eu que pareço um dançarino feito ladrão que acaba por nada levar atrás apesar do intento sempre ser esse. Eu que apenas de ladrão faço a entrada pela janela, sorrateira e a meio da noite.Eu que de dançarino apenas tenho a vontade de me mexer e de esbracejar no ar.Eu...que apenas queria um pco de companhia, levei com a porta trancada e fechada à frente da cara, por parecer que sou apenas mais um peão...

E estas noites...fazem-me escrever...
e tombar no chão do comboio que me leva a casa.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

A linha do comboio e peregrinações exemplares

E eles dizem para não a atravessar a pé e na mesma o fazemos.
Talvez nao seja por rebeldia, nem por parvoice exibicionista para mostrar em fotos espalhadas na internet.Talvez seja apenas porque gostamos d ouvir o comboio passar. De seu barulho divinal q irrompe pela paisagem adentro, pela paisagem a-fora.
Eu ca gosto de andar na linha do comboio...faz-me sentir como se estivesse a fugir de tudo, deixando tudo para trás, gradualmente esquecendo quem fui, quem era...e tornar-me num viajante, numa pessoa construida apenas apartir das memorias da viagem que iniciou sabe lá ele quando...sabe lá ele porquê...

Ele apenas anda...
apreciando cada segundo da sua viagem, engolindo cada trago de sensaçao...
sendo a linha do comboio seu caminho de peregrinaçao para fora do que alguma vez foi...
para onde nunca mais voltará...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

É a minha vez de me espalhar...

As palavras de outro que reflectem as minhas já foram escritas à coisa de 80anos. Nos dias de hoje, na mesma cidade fria e anónima, por entre as ruelas de Alfama com cheiro a mijo, com o olhar rígido de S.Jorge lá do alto, sentado noutra mesa de um ou outro café apenas com a companhia de meus fantasmas e febres, na companhia do meu anti-Eu e do assassino de mim mesmo.
Noutra mesa de outro café está outra pessoa curvada sob um caderno.
Noutra mesa de outro café está outra pessoa sozinha a beber café e a olhar para o vazio como num filme português, como num quadro do Edward Hopper.

É a minha vez de me espalhar... o Álvaro era apenas outro desgraçado auto-flagelista digno de Cristo que viveu noutros tempos, por entre vultos cinzentos das mesas dos cafés lisboetas, perdido por entre suas próprias contradições e sujo pela tinta da sua caneta.
É a minha vez de me espalhar...enquanto escrevo afectado pelo alcool que bebi sozinho num banco frio à beira Tejo.
É a minha vez de me espalhar...
e acabar.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Verde delírio...verde letargia

Jazo num local de suposto descanso,
deitado sobre o frio asfalto
num pasmo esverdeado
da cor do meu vomitado.

E o ópio estava gasto,
o absinto sem sabor...

E o verde delírio
tornou-se letargia.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Queria e pediste tempo para ti próprio e para todas tuas febres, e tuas paixões desmedidas e descabidas e imaginárias, e para tuas feridas oxigenadas e para tuas cicatrizes cosidas com agulha e linha da caixa de costura da tua mãe a quem já não ligas e para as correntes ferverosas de lava que percorrem tuas espessas e quentes veias e tuas doenças palpitantes e teus suores frios de Verão e teus suores quentes de Inverno e teus platonismos urbanos e anónimos que se dissipam por entre o cinzento e tua luxúria estonteante que toma posse de ti tornando-te num animal de duas cabeças em que a mais pequena manda na maior em que a de baixo é que age e a tua voracidade vermelha que lambe açúcar de cima daquela mesa feita de carne humana com suas curvas delgadas e o teu espírito inquieto perseguidor de espíritos incertos e a tua sombra que os persegue por entre as ruas sem luz onde a sombra já é corpo e não projecção na casa amarela e a própria casa amarela onde tanto desejavas entrar e que agora chupa-te os olhos para fora da caveira que já és e a outra que te piscou o olho e mais aquela que te mandou um comentário com mais de duas linhas sobre uma foto seguida de um texto similar a este escrito num local similar a este com uma companhia igual a esta que é ninguém e sozinho e porque querias e pediste tempo para ti próprio
e para tuas febres
e para tuas paixões desmedidas e descabidas e imaginárias
e tuas feridas e cicatrizes e...
agora estás só...

Com uma arma apontada ao céu
e ao céu da boca.



Cinemateca, 28 de Dezembro de 2006

Bertolucci's fatherland backwards dance

Ela aproximou-se da cama do menino, pé-ante-pé, para o não sobressaltar o seu sono e sonho.
Seu vestido preto sussurava enquanto deslizava por entre os brinquedos espalhados pelo chão do quarto.
Debruçou-se sobre a cama do menino,
ajeitou-lhe os lençois tapando-lhe o nariz.

Dá-lhe um leve beijo na fronte.
E murmura no seu ouvido...

"...Bertolucci's fatherland backwards dance..."

E desvanece-se no escuro do quarto...
Deixando apenas estas palavras a ecoarem na cabeça do menino...
já crescido...