quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Queria e pediste tempo para ti próprio e para todas tuas febres, e tuas paixões desmedidas e descabidas e imaginárias, e para tuas feridas oxigenadas e para tuas cicatrizes cosidas com agulha e linha da caixa de costura da tua mãe a quem já não ligas e para as correntes ferverosas de lava que percorrem tuas espessas e quentes veias e tuas doenças palpitantes e teus suores frios de Verão e teus suores quentes de Inverno e teus platonismos urbanos e anónimos que se dissipam por entre o cinzento e tua luxúria estonteante que toma posse de ti tornando-te num animal de duas cabeças em que a mais pequena manda na maior em que a de baixo é que age e a tua voracidade vermelha que lambe açúcar de cima daquela mesa feita de carne humana com suas curvas delgadas e o teu espírito inquieto perseguidor de espíritos incertos e a tua sombra que os persegue por entre as ruas sem luz onde a sombra já é corpo e não projecção na casa amarela e a própria casa amarela onde tanto desejavas entrar e que agora chupa-te os olhos para fora da caveira que já és e a outra que te piscou o olho e mais aquela que te mandou um comentário com mais de duas linhas sobre uma foto seguida de um texto similar a este escrito num local similar a este com uma companhia igual a esta que é ninguém e sozinho e porque querias e pediste tempo para ti próprio
e para tuas febres
e para tuas paixões desmedidas e descabidas e imaginárias
e tuas feridas e cicatrizes e...
agora estás só...

Com uma arma apontada ao céu
e ao céu da boca.



Cinemateca, 28 de Dezembro de 2006

1 comentário:

Unknown disse...

A cinemateca é um
optimo sitio para escrever e este texto prova-o.

Parabéns plo blogue.