domingo, 28 de janeiro de 2007

Com o Al Berto debaixo do braço

Que paciência a sua
de levar O Medo
debaixo do seu braço!

O meu, pulsa negro
por entre as veias e a curvatura das costas,
dobrando-me o espírito
até à formatura de uma pedra

- inerte e fria.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Bailarina dançarina

E a bailarina dançarina de sapatos vermelhos brilhantes com seus pés vermelhos em carne-morta; dança. Dança e rodopia com uma garrafa na mão. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, desgastando a sola dos seus pés.Deixando pequenos pedacinhos seus no chão de madeira deslizante, no piso de dança.
E a bailarina dançarina de cabelos-noite e olhos-mar.Filha do gerente do hotel que existe no topo da escarpa, ao lado da cascata.Por entre as tenebrosas e imponentes árvores, onde vivem uivos violentados de vultos velozes e esfomeados; dança. Dança e dança. Rodopia e rodopia. Dança e rodopia, deixando deslizar seus cabelos-noite, passeando os seus olhos-mar por toda a sala e por todo o piso de dança e perdendo-se no remoínho da música, do melancólico bop que nem chega a fazer pop nem tun tun tun nem beebop-pop-bog e apenas a envolve numa estranha neblina anestesiante que lhe acende o cigarro apagado no canto da boca.
E a bailarina dançarina apenas dança sozinha; dança.
E a bailarina dançarina foge quando o bailarino dançarino aparece para lhe dar a mão e a levar ver a Lua.

Cinema

...e o cinema não é a sintese de todas as artes mas sim a explosão e sublevação de todas elas a uma nova dimensão.

Já é Domingo e apenas os poucos transeuntes o sabem...

E tantas outras noites e comboios passam de um lado para o outro,
em movimentos oscilatórios do pêndulo dos tempos perdidos e nunca ganhos nem reconquistados, dos tempos elevados e subelevados ao expoente da sensaçao, do delirio e da explosão.

Cabeças que tombam quando as paragens aparecem e fazerem parar o corpo que se move dentro de uma bala através de fronteiras feitas de fumo e fábricas.
Cabeças pesadas e perdidas, olvidadas e destiladas em mistelas de cores esbatidas.

Pessoas sentadas em ombreiras de portas, com seus membros enregelados e com seus corações gélidos a tentar aquecer as suas mãos na fricção do gelo com gelo que cobre ambos seus corpos.
E não faz fogo e não faz fogueira.
E não há fricção porque os corpos afastam-se e fogem e amedrontam-se por causa de memórias de cidades fantasmas feitas com madeira pútrida da persistência da memória, dos amaldiçoados que têm boa memória, dos cruxificados que se lembram do que tomaram pelo pequeno almoço num sábado perdido por entre braços outrora conhecidos e que agora passam despercebidos e estranhos enquanto surge a necessidade do abrigo da dormência dos espírito e do falso esquecimento.

E eu, que raio faço no meio de tanta palavra colocada quase ao acaso por entre este vomitado esverdeado de sensações nocturnas e fartas.Eu que pareço um dançarino feito ladrão que acaba por nada levar atrás apesar do intento sempre ser esse. Eu que apenas de ladrão faço a entrada pela janela, sorrateira e a meio da noite.Eu que de dançarino apenas tenho a vontade de me mexer e de esbracejar no ar.Eu...que apenas queria um pco de companhia, levei com a porta trancada e fechada à frente da cara, por parecer que sou apenas mais um peão...

E estas noites...fazem-me escrever...
e tombar no chão do comboio que me leva a casa.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

A linha do comboio e peregrinações exemplares

E eles dizem para não a atravessar a pé e na mesma o fazemos.
Talvez nao seja por rebeldia, nem por parvoice exibicionista para mostrar em fotos espalhadas na internet.Talvez seja apenas porque gostamos d ouvir o comboio passar. De seu barulho divinal q irrompe pela paisagem adentro, pela paisagem a-fora.
Eu ca gosto de andar na linha do comboio...faz-me sentir como se estivesse a fugir de tudo, deixando tudo para trás, gradualmente esquecendo quem fui, quem era...e tornar-me num viajante, numa pessoa construida apenas apartir das memorias da viagem que iniciou sabe lá ele quando...sabe lá ele porquê...

Ele apenas anda...
apreciando cada segundo da sua viagem, engolindo cada trago de sensaçao...
sendo a linha do comboio seu caminho de peregrinaçao para fora do que alguma vez foi...
para onde nunca mais voltará...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

É a minha vez de me espalhar...

As palavras de outro que reflectem as minhas já foram escritas à coisa de 80anos. Nos dias de hoje, na mesma cidade fria e anónima, por entre as ruelas de Alfama com cheiro a mijo, com o olhar rígido de S.Jorge lá do alto, sentado noutra mesa de um ou outro café apenas com a companhia de meus fantasmas e febres, na companhia do meu anti-Eu e do assassino de mim mesmo.
Noutra mesa de outro café está outra pessoa curvada sob um caderno.
Noutra mesa de outro café está outra pessoa sozinha a beber café e a olhar para o vazio como num filme português, como num quadro do Edward Hopper.

É a minha vez de me espalhar... o Álvaro era apenas outro desgraçado auto-flagelista digno de Cristo que viveu noutros tempos, por entre vultos cinzentos das mesas dos cafés lisboetas, perdido por entre suas próprias contradições e sujo pela tinta da sua caneta.
É a minha vez de me espalhar...enquanto escrevo afectado pelo alcool que bebi sozinho num banco frio à beira Tejo.
É a minha vez de me espalhar...
e acabar.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Verde delírio...verde letargia

Jazo num local de suposto descanso,
deitado sobre o frio asfalto
num pasmo esverdeado
da cor do meu vomitado.

E o ópio estava gasto,
o absinto sem sabor...

E o verde delírio
tornou-se letargia.